quinta-feira, 11 de março de 2010

O amor de Zequinha e Mariquinha

Zequinha é um passarinho que a minha amada Liza ganhou de um de seus alunos. Quando chegou em casa ficou minutos tímido e depois passou a cantar todos dias, em todas as horas e em todos os momentos. Basta fazer barulho em casa, seja conversando ou através de qualquer aparelho elétrico, lá vai Zequinha cantarolar. Conquistou a nossa simpatia rapidamente e contagiou os vizinhos que não cansam de elogiá-lo, tamanha disposição para cantar a qualquer momento. Não existe uma só pessoa que não admire a performance dele em todos os sentidos, pois, ao cantar desenfreadamente, passa a chamar a atenção de todos pela melodia agradável que apresenta constantemente. Diante desta simpatia toda não é preciso dizer que ele é um passarinho mimado. Minha sogra Cleusa, por exemplo, todas as vezes que vai em casa deixa ração, água e qualquer outro alimento para canarinho, a disposição do bichinho que ainda vai explodir de tanto comer. Chegou ao ponto, certa vez, de colocar água gelada para que Zequinha se refrescasse, esquecendo o tempo a mais na geladeira, colocando o bebedouro ainda em forma de gelo. Tomar banho então, é motivo de platéia cativa, tamanha algazarra que o animalzinho faz com muita graça e beleza. Coisas que somente a natureza pode explicar. É percebido que Zequinha é o centro das atenções em casa. Impossível não notar a presença dele. Diga-se de passagem, é o único animal permitido e que durou mais do que o esperado. Foram tantos os peixinhos que tivemos, que em razão da curta existência, desistimos. Cachorro e gato, nem pensar. Por enquanto. Zequinha continua resistente a ponto de atrair outros pássaros do bairro, como rolinhas, pombinhas, pardais, bem-te-vi, beija-flor, e outros que não sei distinguir. Passo a enxergá-lo com certa liderança, mas depois caio na realidade que se trata dos restos da ração que ficam no chão. Mas a verdade é que Zequinha é o xodó da casa. Com os preparativos para a chegada de Laura, nossa filhinha, Liza está se esforçando ao máximo em mudar comportamentos em favor de nossa herdeira. Vegetariana que é, passou a comer carne com menos raridade... Músicas, livros, revistas, sites, telefonemas, contatos e tantos outros afazeres de uma grávida, tudo em função de Laura que chegará em julho. Até Zequinha entrou no esquema. Liza quer que Laura curta-o e por isso tratou de arrumar uma companheira para que tenhamos uma família de canarinhos. Certo dia ela chega em casa com: Mariquinha. Uma canarinha lindinha, de plumagem amarela, redondinha, perninhas claras e um olhar todo angelical. Tenho a absoluta certeza de que Zequinha e Mariquinha tiveram o amor a primeira vista, que eu acredito muito, pois aconteceu isso quando vi Liza pela primeira vez e hoje considero-me o homem mais feliz do mundo em tê-la ao meu lado, e em breve ao lado de Laura, fisicamente. Zequinha é outro pássaro depois da chegada de Mariquinha. Tenho a impressão que passou a cantar mais grosso, está mais agitado e o que é pior: ao lado de Mariquinha ele não canta. Impressionante como é fato quando seres masculino e feminino, se encontram, ambos passam a ter uma comunicação telepática, ou através da linguagem do coração e do amor. Comecei a prestar mais atenção nesse relacionamento entre canários. Já fiquei horas observando Zequinha e Mariquinha, que ainda estão em gaiolas separadas, mas em breve ocuparão as mesmas grades. Comecei a ficar aborrecido, pois aquela cantoria que eu adoro havia terminado. Zequinha só pensa em Mariquinha, igual a qualquer apaixonado. Talvez tenha se esquecido de cantar, pois, agora tem a quem admirar. Fazendo uma analogia das relações amorosas, passei a ver que é sempre assim: quando estamos na fase da conquista somos poderosos, fortes, incansáveis e super exibidos. Ao conquistarmos a admiração do amado ou amada, passamos a viver em função da reação do outro. Com o tempo concluímos que isso não é o ideal, porém, é preciso passar por esta fase. Sempre percebi que casais perfeitos nos relacionamentos, tem um dos lados anulado, tímido ou superado. Num casal, sempre tem um que se deixa levar pelo amor do outro. É a lei da concessão. Não se trata de medir forças, mas sim de dar pouca importância a si, para o bem da relação ou por ter amor em ver o outro mais satisfeito. É a satisfação em ver o outro mais ou igual do que a satisfação própria. Aprendi em dois casamentos que a tolerância, as adversidades, a reunião de famílias e a aceitação dos defeitos do outro são temas delicados que não podem ser discutidos a todo instante e em locais e momentos inoportunos. São assuntos que merecem cuidados, pois colocam a relação do casal em xeque e as vezes, por impulso, medidas são tomadas de forma precipitadas. Para desfazê-las pode custar uma vida. O bom senso, o equilíbrio e a essência do amor, que é a crença de que a vida é melhor sempre com boa companhia, são diretrizes que devem ser alcançadas pelos casais verdadeiramente apaixonados e que respeitam a limitação mútua. Zequinha quando está longe de Mariquinha, ou quando não a vê, inicialmente ficava desesperado e cantava como um louco. Passei a separá-los, através de uma toalha entre os dois, e hoje ambos perceberam que estão tão próximos que não é preciso ver. Porém, Zequinha voltou a ser o nosso tenor, enquanto que a graciosa Mariquinha demonstra ter a tranqüilidade feminina em saber que, a noite, ambos estão juntos um olhando para o outro em pleno amor. Percebo então, que o amor deve ser curtido na plenitude, independente de som ou imagem. E assim passei a beijar muitas vezes uma barriga enorme que Liza vem carregando ultimamente, sem ver e sem ouvir a pequena Laura, mas sabendo que o meu amor é vivo. Passo acreditar que realmente o amor é cego, surdo e mudo. Trata-se de uma energia vital para quem quer ser feliz, basta ter o amor, mesmo sem ver ou ouvir. E eu sou muito feliz.