quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

As lições do Haiti aqui...

Não deixo de ficar emocionado todas as vezes que vejo na televisão o desastre que aconteceu no Haiti e a luta pela sobrevivência que aquele povo mostra todas as vezes que uma equipe de reportagem aparece. Penso que seja impossível não se sensibilizar por tudo aquilo. Verificar como é possível um ser humano no século 21 viver naquelas condições e chegar a comportamentos dos mais selvagens para lutar por comida, água ou pelos seus bens que sobraram. Admito que por muitos dias imagens fortes sobre o terremoto e a luta dos haitianos me incomodaram. Choro, desespero, mortes, crianças e velhos feridos, pais e mães desesperados pelo sentimento de impotência e principalmente o olhar profundo de cada um dos que sobreviveram, sem ter uma esperança a imaginar foram detalhes que muitas pessoas perceberam. Ao ver aquelas condições lamentáveis em que o povo do Haiti vive, fiquei a pensar como isto seria possível, ainda mais com um terremoto naquelas proporções? Como pode tanta desgraça acontecer num mesmo local? Que culpa aquele povo tem, por viver em condições tão miseráveis, e ainda sofrer um terremoto arrasador? Não encontro respostas para estas perguntas, mas consigo transportar estas minhas indagações a uma realidade que está bem próxima de mim. Ao passar em locais periféricos da cidade em que vivo, começo a recordar as imagens que as emissoras de TV insistem em mostrar, do povo do Haiti, nos principais horários da televisão constantemente. Cheguei, certa vez, pensar que estavam falando do Haiti, mas era sobre as enchentes de São Paulo, as catástrofes de Paraitinga, e até mesmo fiz confusão sobre os acidentes em Agra dos Reis. Em um dia em que Marília foi vítima de um temporal, fotos nos jornais mostravam o estrago que a população mais carente de minha cidade sofreu, e eu imaginei que fosse o Haiti. Lembrando da música de Caetano Veloso em que ele diz que o Haiti é aqui, passei a refletir a dimensão dos problemas. Assim sendo percebi que somente grandes nações podem ajudar o povo haitiano. Navios, aviões, carros, tanques (de água), exército (segurança), e ONGs especializadas em catástrofes é que são os meios emergenciais e que farão algo por aquele povo imediatamente. Minha ajuda é ínfima. Naturalmente se eu me unir a outros, pode ser que faça alguma diferença a longo prazo, mas penso ser incapaz de fazer algo pelo povo do Haiti a qualquer momento, mas posso fazer pelo povo de Marília ou de cidades próximas, ou até mesmo dentro do meu País. Ao assistir uma apresentação de uma voluntária que esteve em Guayaquil, no Equador, fazendo parte de uma Missão Humanitária do Rotary International, enxerguei que a minha vocação de voluntário pode ser desenvolvida na comunidade em que estou. Ou até mesmo em regiões miseráveis dentro do meu próprio País. Senti que eu seria a diferença neste sentido, e que a minha simples presença (sem fazer qualquer coisa) poderia ajudar em algo. Ao ouvir a Lilian Moraes mostrar o quanto foi importante esta missão para o povo equatoriano, fui me enchendo de motivação para fazer algo por aqui mesmo, sem a necessidade de ir tão longe. Vendo como o Haiti está transformando o mundo em nações humanitárias, e vendo o que o Rotary International é capaz de fazer sozinho, aprendi que ao dedicar-me em ações simples, práticas e dentro de minhas possibilidades, posso ajudar qualquer um em qualquer lugar. Tenho conhecimento que as famílias carentes de minha cidade são assistidas pelo Poder Público e por diversas instituições filantrópicas e assistencialistas, em que minha presença talvez fosse desnecessária, se eu a trocasse por donativos ou alimentos. Seria mais útil e menos trabalhoso. Ao assistir o trabalho voluntário que foi feito no Equador, imaginei as regiões mais interioranas do nordeste, sul ou até mesmo no norte do Brasil. Imaginei os problemas indígenas até hoje mal resolvidas pelas equivocadas políticas públicas, ou até mesmo pelo antigo Projeto Rondon, que sempre tive idolatria em fazer parte, em que poderia ajudar com a minha simples presença e com a pouca experiência que adquiri na vida. Ou seja: não consigo ajudar o Haiti, mas posso ajudar o Brasil. Estou colhendo informações de como fazer isso. Naturalmente sendo rotariano convicto, farei parte de uma Missão Humanitária que a organização que faço parte pretende desenvolver, graças ao entusiasmo desta moça, Lilian Moraes, da cidade de Rancharia, que vem contagiando as pessoas que prestam atenção na essência deste trabalho realizado por ela. Quando isto acontecer, sentirei a recompensa física, moral e espiritual de como é necessário e vital para a vida de qualquer pessoa, ajudar desconhecidos com o único propósito de ajudar, seja como for. Vendo o Haiti, a África, o Equador e tantos outros locais miseráveis deste planeta, vejo o quanto é importante dar de si antes de pensar em si, que a meu ver deve ser a única razão de nossa existência. Qual a importância que existe em viver sem ajudar o outro?

4 comentários:

  1. Márcio querido, não dá prá gente viver "sem ajudar o outro"... pelo simples motivo de não vivermos sozinhos. Pena que isso ainda não é um consenso, né ?
    Concordo com o que você escreveu - é importantíssimo fazer aquilo que nos é possível fazer... Não adianta querer "resolver o problema do vizinho", se no "nosso próprio quintal" tem uma porção de tarefas a serem cumpridas. E mais: FAZER ! A ação, por menor que seja, é melhor do que não fazer nada.
    Parabéns pelo texto!
    Beijão.
    Deborah

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  2. Marcio :
    Parabéns ! Seus artigos são sempre edificantes !
    É isso mesmo; vamos ajudar os "Haitis" que ficam perto de nós. Com isso, estaremos agindo de acordo com o novo lema do Rotary : "Fortalecer Comunidades, Unir Continentes".
    Saudaçoes rotárias.
    Dora Sodré
    Presidente do RC RJ São Conrado
    Distrito 4570

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  3. Caro cp Márcio....gostaria de saber se posso publicar no meu jornal DIÁRIO o artigo q vc escreveu sobre o Haiti.
    Claro...será creditado a vc.
    abraços rotários.
    Jorge.

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  4. Companheiro Márcio,
    Como de outros artigos seus, AS LIÇÕES DO HAITI AQUI... me chamou atenção.
    Sua abordagem muito feliz, "artigo" que vou pedir para ser lido e comentado no Clube-RC-Lucélia.
    Sinalizei sua última frase do artigo: Qual a importância que existe em viver sem ajudar o outro? - Ótima para reflexão aos rotarianos, aos que tem vocação para sê-lo e aos demais. Gostei tbém do artigo sobre "preocupação com aposentadoria" onde o Comp. citou o cunhado, outro artigo foi sobre a nova experiência de ser "Papai" em nova fase da vida.
    A frase também me chamou atenção por eu ter ouvido uma frase semelhante pronunciada por Dra. Zilda Arns, em evento que participei, na cidade de Curitiba-Convenção Nacional da Ordem Rosa Cruz, onde Dra. Zilda fez pronunciamento sobre o trabalho dela junto às crianças, posteriormente jantamos juntas.
    =Um parênteses: meu tio Dr. MAXIMIANIANO STASIAK foi Desembargador no Trib.de Justiça de Curitiba, aposentado passou a desenvolver trabalhos em Creches, daí a amizade com Dra. Zilda, daí eu poder estar em contato com ela algumas vezes =
    Voltando a s/ frase, Dra Zilda comentou num desses jantares que algumas amigas lhe diziam: Zilda VC deve aproveitar a vida, é viúva, filhos criados, vai curtir a vida com tranquilidade... e ela, Dra Zilda, completou: COMO VIVER SEM AJUDAR AO PRÓXIMO? ME SENTIRIA UMA INÚTIL! E, terminou a vida dela sendo ÚTIL!
    Dra. Zilda, descendente de uma Família que tinha o DNA da religiosidade,era uma iluminada!
    Em agosto de 2008, quando da Conferência Presidencial de ROTARY, na cidade de São Paulo, Dra Zilda falou e muito bem do trabalho que desenvolvia, o Companheiro deve estar lembrado, pois tbém participou, não foi? Tbém estive lá e mais uma Companheira do RC-Lucélia.
    Companheiro Márcio, estamos torcendo para que a chegada do novo "herdeiro" seja para tornar completa a felicidade da Família!
    Fraternalmente,
    Elsa Inês Stasiak de Souza
    RC-Lucélia=Secretária 2009-2010

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